quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Marco Polo


Marco Polo nasceu em 1254, em Veneza, em uma família de comerciantes, tornando-se ele também um mercador. Quando tinha por volta de 17 anos ele fez uma viagem ao o extremo Oriente (China) junto com seu pai e seu tio, para a corte de Kublai Khan (que se tornou um grande amigo de Marco Polo durante seus mais de vinte anos de permanência naquelas terras). O que era para ser apenas uma viagem de negócios se transformou em uma grande aventura por terras estranhas e desconhecidas. Dessa viagem nasceu o livro Il milione, no qual ele relata tudo o que viu na sua aventura.
Ele só retorna a Veneza em 1295, período em que ocorria uma guerra. Marco Polo foi feito prisioneiro de guerra e, durante o período que passou no cárcere, conheceu Rustichello da Pisa, também prisioneiro e autor conhecido na época. Por Marco Polo ser comerciante e não escritor, após refletir sobre tudo o que ocorrera em suas viagens, ele ditou o livro a Rustichello, que o colocou por escrito. O livro foi primeiramente escrito em francês antigo, com o título “Livre dês merveilles” (livro das maravilhas), mas a versão que durou até hoje foi a toscana “Il Milione”. Ele foi liberado da prisão em 1299 e morreu em 1324 na sua cidade.
Vemos nesse livro que Marco Polo tenta aprender e assimilar a cultura do oriente, e por não entender direito algumas coisas, descreve tudo do jeito que vê, e algumas vezes tenta classificar o que não conhece, o que torna algumas passagens do livro muito interessante, quase um jogo de adivinha como, por exemplo, uma passagem em que, ao ver um rinoceronte, descreve-o como sendo um unicórnio, pois era o único animal com chifre do qual já tinha ouvido falar. Assim o livro possui um clima de fábula, pois, apesar de ser um livro de observação, tudo o que aparece lá é estranho e diferente.
            Dizem que esse livro foi usado antigamente como guia geográfico e histórico, e era a única fonte de informações sobre o oriente. Verdade ou não, com 209 capítulos, todos muito curtos, é um livro muito interessante. Aí vão alguns capítulos, traduzidos por mim: 
           
 Il Milione

Capítulo I

            Senhores imperadores, reis, duques e todos os outros que querem saber sobre as diversas gerações das pessoas e a diversidade das regiões do mundo, leiam este livro, onde encontrarão todas as grandessíssimas maravilhas e grandes diversidades das pessoas de Ermínia, da Pérsia e de Tartária, da Índia e de muitas outras províncias. E isso estará no livro ordenadamente, como o senhor Marco Polo, sábio e nobre cidadão de Veneza, relata neste livro após ele mesmo ter visto tudo. E tem também aquelas coisas que ele não viu, mas ouviu de pessoas dignas de confiança; assim, das coisas vistas ele falará pelo que viu e das outras pelo que ouviu, para que o nosso livro seja verdadeiro e sem nenhuma mentira.
            Mas eu quero que vocês saibam que depois que Deus criou Adão, nosso primeiro pai até os dias de hoje, nem cristão nem pagão, sarraceno ou tártaro, nem nenhum homem de nenhuma geração não viu nem procurou tantas coisas maravilhosas no mundo como fez o senhor Marco Polo. E ele disse a si mesmo que seria um grande mal se não registrasse por escrito todas as maravilhas que ele viu, porque quem não as conhece as verá neste livro.
            E assim digo que ele ficou naqueles países por bons trinta e seis anos, e depois, quando estava na prisão de Gênova, fez o senhor Rustichello da Pisa colocar por escrito todas essas coisas, senhor este que estava preso na mesma cela nos anos de 1298.


Capítulo XCVIII

 

Como o Grande Khan ajuda a sua gente quando há falta de mantimentos

Agora vocês sabem que o Grande Senhor manda mensagens para toda a província para saber de seus homens, se eles têm problemas com suas plantações, ou por causa do mau tempo ou de grilos, ou por outra peste. E se ele vê que alguém tem esse dano, não o faz pagar o tributo que deveria pagar, mas lhe doa de seus mantimentos, para que tenham o que germinar e o que comer. E isso é um grande feito, por um senhor o fazer.
            E isso ele faz no verão. No inverno procura saber se os animais de alguém estão morrendo, e faz a mesma coisa. Assim mantém o Grande Senhor a sua gente.
            Deixaremos esta maneira, e vos falarei de uma outra.

Capítulo XCIX

 

Sobre as árvores

 

            Agora saibam que é verdade que o Grande Senhor ordenou que, por todas as estradas principais que existem nos seus reinos, sejam plantadas árvores distantes dois passos umas das outras, através da margem das estradas. E isso é para que mercadores, mensageiros e outras pessoas não possam errar o caminho, quando seguem por lugares desertos. E essas árvores são tantas que é possível vê-las muito bem de longe.

            Agora eu vos contei das estradas, a seguir vos contarei outra coisa.

 

 

Capítulo C

 

O vinho

 

            Saibam ainda que a maior parte do Catai bebe um tal vinho, como eu vos contarei. Eles fazem uma bebida de arroz com muitas outras especiarias e a deixam curtir de uma maneira que é melhor para beber do que qualquer outro vinho. Ele é claro e belo, e inebria mais que os outros vinhos, por isso é muito quente.

 


Il Milione, integral, em italiano:

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