Tradução do
conto “Petrosinella”, de Giambattista Basile, publicado em “Lo cunto de li
cunti (Il Pentamerone). Volume I”. Tradução: Ana Lucia Rizzi Fiori
Era uma vez uma mulher grávida chamada Pascadósia. Um dia, ela se
debruçou na janela que dava para o jardim de uma ogra e viu uma bela plantação
de salsinha, e ficou com um desejo tão grande de comer aquela salsinha que
quase desmaiou. Até que, não conseguindo mais resistir, e espiando a ogra sair
de casa, foi até lá e colheu um raminho. Mas quando a ogra voltou, foi colher
salsinha e percebeu que alguém havia passado por ali, e disse: – Que me caia o
osso do colo se eu não descubro esse ladrão e o faço se arrepender, para
aprender a não pegar o que não é seu. – Mas, como Pascadósia continuou indo à
horta, uma manhã, ela foi surpreendida pela ogra, que, furiosa, disse-lhe: –
Peguei você, sua ladra! Talvez devesse pagar pelo aluguel desta horta, a qual
vem sem escrúpulos para pegar as minhas ervas? – Pascadósia começou a se
desculpar, dizendo que não foi por gula ou inveja que ela cometeu esse pecado,
mas porque estava grávida, e estava com medo que o bebê nascesse com cara de
salsinha, e deveria ainda agradecer por não ter recebido nem mesmo um terçol.
– Basta com essas palavras! –
respondeu a ogra. – Você não vai me fazer cair nessa sua conversa mole. Sua
vida chegará ao fim se não me prometer que me dará a criatura que irá parir,
menino ou menina que seja.
A pobre Pascadósia, para fugir do perigo imediato, fez essa promessa a
ela, e assim a ogra a deixou partir.
Quando chegou o momento do parto, nasceu uma menina tão linda, que era
uma pequena joia, e por ter no peito um raminho de salsinha, foi chamada de Petroselina.
A garota foi crescendo dia após dia e, quando fez 7 anos, a mãe a mandou até
sua professora. Todo dia, no caminho para lá, ela encontrava uma ogra, que
dizia: – Diga a sua mamãe para lembrar-se da promessa! – E tantas vezes repetiu
isso que a pobre mamãe, não suportando mais essa mesma história, uma vez lhe
disse: – Se encontrar essa velha e ela lhe falar dessa maldita promessa de
novo, responda-lhe: “Pegue-a!”
Petroselina, que não sabia da promessa, ao encontrar a ogra que lhe
repetiu a mesma frase, inocentemente respondeu o que lhe foi dito por sua mãe,
e a ogra, pegando a garota pelos cabelos, levou-a até um bosque no qual não
entravam nunca os cavalos do Sol, e ali, no meio da sombra, trancou-a em uma
torre, que fez surgir com mágica, sem portas, sem escadas, com uma única
janela, por meio da qual, agarrando os cabelos de Petroselina, que eram muito
longos, a ogra subia e descia.
Um dia, quando a ogra não estava na torre, Petroselina pôs a cara para
fora daquele buraco e estendeu as tranças ao sol. Nesse momento, passou por ali
o filho de um príncipe que, ao ver as duas bandeiras de ouro, que convidavam as
almas a participarem do exército do Amor, e admirando entre aquelas ondas
preciosas uma face de sereia, que encantava qualquer coração, se apaixonou por tamanha
beleza. E enviando-lhe um sem número de suspiros, foi decretado que a fortaleza
se rendesse a sua graça. E o encontro deles andou tão bem que o príncipe
recebeu muitos acenos de cabeça em troca de beijos enviados pelas mãos,
piscadinhas em troca de reverências, agradecimentos em troca de propostas,
esperança em troca de promessas e palavras gentis em troca de comprimentos. A
coisa continuou assim por alguns dias, e eles ganharam tanta confiança que
decidiram se encontrar mais de perto. Mas isso deveria acontecer de noite, a
garota daria um sonífero à ogra e o puxaria com seus cabelos.
Após decidido isso, na hora combinada, o príncipe chegou à torre e deu
um assobio para Petroselina jogar suas tranças, agarrou-as com as duas mãos e
disse: – Puxe! – E, ao subir, entrou pela janela no quarto, fez um lanchinho
com salsa no molho do amor e, antes que o sol nascesse, desceu pela mesma
escada de ouro. Isso se repetiu muitas vezes, até que uma comadre da ogra descobriu
e, querendo se meter onde não era chamada, disse à ogra para ficar atenta,
porque Petroselina fazia amor com um certo jovem e ela suspeitava que a coisa fosse
ainda além, porque ouvia os barulhos e via a movimentação ali, e tinha certeza
que, se tivessem a oportunidade, desapareceriam dali antes do mês de maio.
A ogra agradeceu a comadre pelo aviso e disse que seria problema seu
impedir os planos de Petroselina. Disse também que não seria possível que a
garota fugisse porque ela havia lançado um encantamento, e se a garota não
tivesse nas mãos três bolotas que estavam escondidas sob o piso da cozinha,
seria uma perda de tempo. Mas, enquanto elas conversavam, Petroselina, que
estava com o ouvido bem aberto e já tinha suspeitas sobre a comadre, ouviu toda
a conversa; e assim que a noite chegou, o príncipe veio como sempre. Ela o fez
subir e, encontrando as bolotas, as quais sabia como usar por ter sido
encantada pela ogra, fez uma escada de barbante e os dois desceram e começaram
a caminhar em direção à cidade. Mas eles foram vistos enquanto saiam pela
comadre, que começou a gritar chamando a ogra, e o barulho foi tão grande que
ela acordou e, ouvindo que Petroselina tinha fugido, desceu pela mesma escada
que estava presa à janela e começou a correr atrás dos namorados.
Os dois, quando a viram chegar perto mais rápida que um cavalo bravo,
se sentiram perdidos, mas, lembrando-se Petroselina das três bolotas, jogou
rapidamente uma no chão, e eis que surgiu um cão muito terrível que, latindo
com a boca enorme aberta, correu atrás da ogra para fazer uma boquinha. Mas ela,
que era mais esperta que o diabo, pôs a mão no bolso, retirou um pão e, jogando-o
ao cão, fê-lo se calar e acalmar a fúria.
Ela voltou a correr atrás
daqueles que fugiam, e Petroselina, vendo-a se aproximar, jogou a segunda
bolota, e apareceu um leão feroz que, batendo a cauda no chão e balançando a
juba, com dois palmos de boca escancarada, se preparava para engolir a ogra. Esta,
voltando um pouco, arrancou a pele de um burro que pastava em um prado e,
vestindo essa pele, correu de novo em direção ao leão que, ao vê-la daquele
jeito, ficou com medo e fugiu. Superando esse segundo obstáculo, a ogra tornou
a seguir os pobres jovens que, ouvindo os barulhos dos passos e vendo a nuvem
de poeira que se erguia até o céu, perceberam que a ogra novamente se
aproximava. Ela, por medo que o leão voltasse a persegui-la, não tirou a pele
do burro, e quando Petroselina jogou a terceira bolota, surgiu um lobo que, sem
dar tempo a ogra de encontrar um novo artifício, engoliu-a como se fosse um
burro.
E os namorados, finalmente longe dos problemas, foram caminhando
devagar até o reino do príncipe onde, com o consentimento deste, eles se
casaram.