terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

A Gata Borralheira


Tradução do conto “La Gatta Cenerentola”, de Giambattista Basile, publicado em “Lo cunto de li cunti (Il Pentamerone). Volume I”. Tradução: Ana Lucia Rizzi Fiori


Era uma vez um príncipe viúvo que tinha uma filha que ele amava muito. A garota tinha uma professora que cuidava dela e lhe ensinava muitas coisas e sempre lhe demonstrava muita afeição.
O pai havia se casado novamente com uma mulher má e perversa, que começou a demonstrar desprezo pela enteada e sempre fazia cara feia e olhares tortos para ela, tanto que a pobre garota sempre se lamentava com a professora sobre o maltrato que sofria da madrasta, e sempre dizia: – Oh Deus, porque não podia ser você a ser a minha mamãezinha, você que gosta tanto de mim? – De tanto repetir isso, uma vez a professora, cegada pela inveja, lhe respondeu: – Se você fizer o que lhe disser esta minha cabeça louca, eu serei sua mãe e você me será sempre cara – Ela ia continuar a falar, quando Zezolla (esse era o nome da garota) disse: – Desculpe-me se a interrompo. Eu sei que você me quer bem, portanto ensine-me o que eu tenho que fazer; você escreve, eu assino.
– Então me escute com atenção – disse a professora. – Assim que seu pai sair, diga a sua madrasta que você quer aquele vestido velho que está dentro do grande baú no porão, para economizar este que você usa agora. Ela, por querer vê-la toda maltrapilha, abrirá o baú e mandará você segurar a tampa enquanto ela procura o vestido. Você irá segurá-lo aberto e, quando ela estiver curvada para dentro revirando as roupas, você deixará a tampa cair com tudo, assim seus ossos irão se quebrar. Após isso, você sabe que seu pai faria de tudo para vê-la feliz, então, quando estiver com ele, peça-lhe para me tomar como sua mulher. Eu serei muito grata a você!
Assim, Zezolla pôs em prática passo a passo o conselho da governanta. Passado o tempo do luto pela desgraça da madrasta, ela começou a dizer ao pai que ele deveria se casar com a professora. No começo, o príncipe achou que fosse brincadeira da filha, mas como ela tanto insistiu, ele acabou ouvindo-a e se casou com Carmosina, a professora, e fez uma grande festa.
Enquanto os noivos estavam na festa, Zezolla foi até um terraço e viu uma pombinha sobre o muro, e esta lhe disse: – Se você precisar de qualquer coisa, peça-a à pomba das fadas da ilha de Sardenha e a terá logo.
A nova madrasta, por cinco ou seis dias, encheu Zezolla de carinho, deixando-a sentar no melhor lugar da mesa e dando-lhe os melhores vestidos. Mas, passado algum tempo, totalmente esquecida do favor que havia recebido da garota, começou a falar das suas seis próprias filhas, que até então havia mantido em segredo. Tanto insistiu com o marido que este recebeu as enteadas com muito amor, esquecendo-se de sua própria filha.
A garota passou a ir apenas do quarto para a cozinha e da pia ao fogão. Suas roupas de seda e ouro se transformaram em trapos. Até seu nome mudou, de Zezolla passou a ser chamada de Gata Borralheira.
Um dia, o príncipe teve que ir à Sardenha, então ele perguntou às suas seis enteadas o que elas queriam que ele trouxesse de presente. Umas pediram belos vestidos, outras lindos enfeites de cabelo, outras brinquedos para passar o tempo, entre muitas outras coisas. Por último, quase por obrigação, perguntou à filha: – E você, o que quer? – e ela respondeu: – Nada além de que o senhor mande lembranças minhas à pomba das fadas, dizendo-lhe que me mande alguma coisa. E se você se esquecer, não conseguirá ir adiante, nem retornar.
O príncipe foi, resolveu tudo o que precisava, comprou os presentes das enteadas e Zezolla saiu de sua mente. Ao tornar ao navio, por mais que tentasse e mexesse as velas, o navio não saia do lugar. O dono do navio, quase desesperado com o ocorrido, acabou adormecendo e sonhou com uma fada, que lhe disse: – Sabe por que o navio não sai do porto? Porque o príncipe, que veio com você, esqueceu-se da promessa que fez à filha, lembrando-se de todos, menos do seu próprio sangue. – Ele acordou e contou o seu sonho ao príncipe, que, envergonhado por seu esquecimento, foi até a gruta das fadas e, falando-lhes da filha, pediu que lhe mandassem alguma coisa.
Uma bela jovem saiu da gruta e disse que agradecia a filha pela boa memória e que queria que ela soubesse que tinha o seu amor. Então deu-lhe uma tâmara, uma enxada, um balde de ouro e uma toalha de seda, dizendo que um era para germinar e os outros, para cultivar a planta. O príncipe, maravilhado com esses presentes, voltou à sua casa, deu às enteadas tudo o que elas queriam e depois entregou à filha o presente da fada. Muito feliz, ela plantou a tâmara em um belo vaso, cuidou dela, regou-a e com a toalha de seda enxugava-a de manhã e a noite. Em quatro dias a planta cresceu e ficou do tamanho de uma mulher, e uma fada saiu de dentro dela dizendo: – O que deseja?
Zezolla respondeu que queria sair de casa algumas vezes, mas não queria que as irmãs soubessem. A fada respondeu: – Sempre que precisar, venha até este vaso e diga: “Tamareira minha dourada, com a enxada de ouro te plantei, com o balde de ouro te reguei, com a toalha de seda te enxuguei, despe a ti e veste a mim!” E quando quiser voltar, mude o último verso, dizendo: “Despe a mim e veste a ti!”
Assim, chegando um dia de festa e estando as filhas da governanta todas arrumadas e cheirosas, Zezolla correu até o vaso e, ao dizer as palavras ensinadas pela fada, ficou arrumada como uma rainha e foi colocada em uma carruagem com doze pajens, e seguiu até onde estavam as irmãs, que ficaram com inveja da bela moça que viram. Mas, como era a vontade da sorte, o rei também estava lá e ficou encantado com a extraordinária beleza de Zezolla. Ele pediu ao seu empregado mais leal que descobrisse quem era aquela bela moça e onde vivia. O empregado começou a segui-la quando ela estava indo embora, mas ela, percebendo, jogou algumas moedas de ouro que havia pegado da tamareira para esse propósito. Ao ver o ouro, ele se esqueceu de segui-la para encher o bolso. Ela voltou para casa, despiu-se e esperou as irmãs voltarem. Estas, para deixá-la com inveja, contaram sobre todas as coisas maravilhosas que haviam visto. Enquanto isso, o empregado foi até o rei e contou sobre as moedas. O rei, furioso com ele, lhe disse que, a qualquer custo, na próxima festa ele teria que descobrir quem era aquela jovem e onde vivia.
Chegou a outra festa e as irmãs, muito arrumadas, saíram deixando Zezolla no fogão. Ela correu até a tamareira e, ao dizer as mesmas palavras, saíram várias fadas da planta, uma com um vestido, outra com uma coroa, outra com um pente, outra com um colar, e outras ainda com várias outras coisas. Deixaram-na linda como o sol e colocaram-na em uma carruagem com seis cavalos, um cocheiro e alguns pajens. Chegando à festa, ela incitou maravilhas ao coração das irmãs e fogo ao peito do rei. Mas, ao ir embora, o empregado do rei a seguiu novamente, e para que ele não a alcançasse, ela jogou algumas joias e pérolas, e o homem parou para pegá-las, pois não eram coisas para se jogar fora. Assim, ela teve tempo de voltar a sua casa e de despir-se. O empregado voltou até o rei, que lhe disse: – Pelas almas dos mortos, se você não encontrá-la, você será um homem morto!
Chegou a terceira festa e, assim que as irmãs saíram, ela foi até a tamareira e, novamente dizendo aquelas palavras, foi vestida maravilhosamente e posta em uma carruagem de ouro com muitos servidores. Na festa, causou muita inveja às irmãs e, quando foi embora, o empregado do rei a seguiu e estava quase alcançando-a. Ao vê-lo sempre perto, ela mandou o cocheiro correr, e a carruagem correu com tanta fúria que um sapato escapou de seu pé. Não se podia ver uma coisa mais bela. O empregado, que não conseguiria alcançar a carruagem que voava, pegou o sapatinho do chão e o levou ao rei, contando-lhe tudo. O rei, ao pegar o sapatinho, disse: – Se a base é assim tão bela, imagine como será a casa! Oh bela dama que prendeu a minha alma em sua rede de amor! – Assim, o rei chamou o escrivão, tocou a trombeta e lançou um aviso dizendo que todas as mulheres do reino deveriam ir à festa que ele daria e ao banquete.
Chegou o dia, e que grande banquete foi preparado! Vieram todas as mulheres, jovens e velhas, bonitas e feias, ricas e pobres, e o rei experimentou o sapatinho no pé de todas elas, uma por uma, para tentar descobrir a quem ele pertencia. Mas o sapatinho não servia em nenhum pé. O rei começava a ficar desesperado e disse: – Quero que todas voltem amanhã, e se me querem bem, não deixem nenhuma mulher em casa, seja ela quem for!
Então o príncipe disse: – Eu tenho uma filha, mas ela está sempre no fogão e não merece sentar-se a mesa com vossa majestade.
– Que essa seja a primeira da lista – disse o rei.
No outro dia todas voltaram, e junto com as filhas de Carmosina veio Zezolla. Assim que o rei a viu, desconfiou que aquela fosse a moça que procurava. Após o banquete, veio a prova do sapato que, assim que se aproximou do pé de Zezolla, quase que pulou sozinho ao pé da moça. Ao ver isso, o rei correu para abraçá-la e colocou uma coroa em sua cabeça, dizendo a todos que deveriam reverenciá-la como sua rainha. As irmãs viram essa cena e ficaram com muita raiva, não conseguiram suportar a inveja de seus corações e fugiram de volta para a casa da mãe.


domingo, 3 de fevereiro de 2013

O Mirto


Tradução do conto “La mortella”, de Giambattista Basile, publicado em “Lo cunto de li cunti (Il Pentamerone). Volume I”. Tradução: Ana Lucia Rizzi Fiori


Era uma vez um casal que não tinha filhos. Eles desejavam muito um herdeiro, de qualquer forma, por isso a mulher sempre pedia: – Oh Deus! Como eu queria dar à luz! Não me importaria nem se fosse um ramo de mirto! – E a mulher repetiu tanto essas palavras e pediu tanto aos céus por isso que, um belo dia, ela engravidou. Sua barriga cresceu e, nove meses depois, ela deu à luz, não uma criança, mas um belo ramo de mirto, repleto de lindas flores. A mulher plantou-o em um vaso todo enfeitado, colocou-o na janela, e regava-o com muito amor e carinho todas as manhãs e todas as noites.
Um dia, o príncipe passou em frente à casa da família e ficou maravilhado com o belo mirto. Pediu à mulher que lhe vendesse a planta, e disse que pagaria muito bem por ela. A mulher recusou a oferta, mas tão grande foi a insistência do príncipe que, ao final, ela acabou aceitando e vendendo a planta, mas fez o príncipe prometer que cuidaria muito bem do mirto, pois ela o amava como a um filho.
O príncipe, com toda a delicadeza do mundo, levou a planta ao seu palácio, colocou-a em seu quarto e, com suas próprias mão, cuidava dela.
Uma noite, enquanto todos dormiam, o príncipe estava em sua cama quando acordou ouvindo barulho de passos, e percebeu que havia alguém em seu quarto. A princípio, pensou que pudesse ser algum pajem ou, quem sabe, algum espírito brincalhão. Porém, esperto e corajoso como era, resolveu esperar para poder ter certeza do que estava acontecendo ali, assim, fingiu que estava dormindo. A pessoa se aproximou da cama do príncipe e deitou-se ali com ele. Ao tocá-la, ele percebeu que ela tinha uma pele muito delicada e macia envolta em um tecido muito leve e sedoso, e achou que estava na presença de uma fada (e acertou em cheio).
Porém, antes que o sol nascesse, a fada se foi, deixando o príncipe muito curioso e encantado. Isso aconteceu novamente por sete dias, e o príncipe queria cada vez mais entender o que era aquela maravilha que lhe caiu das estrelas, e saber quem era a moça que, cheia de amor, ia até aquela cama. Uma noite, enquanto a jovem dormia, o príncipe acendeu uma luz e viu a jovem mais bela que já vira em sua vida, uma maravilhosa fada. Olhando-a, ele disse: – Oh, que grande beleza! É mais bela que uma manhã de sol, e mais brilhante que a mais rica joia. Não me canso de admirá-la. Que belos olhos, que me queimam, que belo peito, que me consola, que bela mão, que me afaga. Onde a mãe natureza foi capaz de criar esta bela criatura? De qual montanha veio a neve que deu cor a este peito? De qual rosa veio a delicadeza desta pele? Qual estrela emprestou seu brilho a estes olhos?
Ao dizer isso, abraçou-a. Ela acordou com essas palavras e respondeu com um sorriso ao suspiro do príncipe apaixonado. Ele continuou a elogiá-la, dizendo-lhe: – Oh meu bem, se eu já estava maravilhado vendo este templo de amor no escuro, o que será de minha vida agora que o vejo no claro, podendo enxergá-lo? Apenas você conseguiu atravessar este coração, e somente você pode cuidar dele. Tenha piedade de um doente de amor que, por trocar o escuro da noite pela luz dessa beleza, adquiriu uma febre.
Ela ficou vermelha como o fogo e disse: – Não diga isso, príncipe, eu sou apenas uma criada sua, e faria qualquer coisa para servi-lo, e valorizo a grande sorte de poder ter saído de um pequeno ramo de mirto e encontrar um coração tão virtuoso.
O príncipe abraçou-a de novo, pegou suas mãos e disse: – Aqui está você agora! Será a minha mulher, a princesa deste reino, terá a chave de meu coração, assim como tem o timão desta vida! – E seguiram trocando mais belas palavras durante a noite. Eles continuaram assim por mais alguns dias.
Porém, como a sorte é muitas vezes impiedosa com os apaixonados, um dia o príncipe foi chamado para ir à caça de um porco selvagem, que estava causando destruição pelo reino. Assim, teve de deixar a fada sozinha, e com ela, boa parte de seu coração. Ele a amava mais que a própria vida, e a achava mais bela que qualquer coisa bela que pudesse haver no mundo, mas, do amor e da beleza, nasceu uma terceira coisa perigosa, a tempestade que surge no continente do amor e a chuva que molha as alegrias amorosas.
Assim, o príncipe disse a fada: – Meu amor, devo ficar fora por uns dois ou três dias. Deus sabe com qual dor me afasto de você! Os céus sabem como gostaria de ficar aqui. Porém, não posso faltar com as obrigações a meu pai, portanto, devo ir. Por isso peço a você, pelo amor que me tem, para ficar dentro do mirto, e não sair até que eu retorne.
– Assim farei, porque não quero e não posso desprezar aquilo que agrada a você. Por isso, vá com a boa sorte, que aqui ficarei esperando o seu retorno. Mas me faça um favor. Amarre na parte de cima do mirto uma corda, e nela um sino, e, quando você retornar, toque-o que eu saio.
Assim fez o príncipe. Depois, chamou o camareiro e disse: – Venha aqui, ouça bem: quero que arrume a cama toda noite, como se eu estivesse aqui, e cuide do mirto e de suas flores. Se eu voltar e sentir falta de uma única flor, eu mesmo o matarei!
O príncipe montou o seu cavalo e partiu.
Então, sete mulheres invejosas e maldosas, que às vezes recebiam visitas do príncipe, percebendo que ele estava frio e distante com elas e que não aparecia mais, pensaram que ele podia estar com alguma outra. Elas chamaram um pedreiro e deram-lhe muito dinheiro para ele cavar um buraco que saísse no quarto do príncipe. Quando entraram lá, não viram ninguém no quarto, apenas um belo mirto. Cada uma começou a arrancar uma flor, e a mais nova delas puxou a de cima, na qual estava presa a corda, e o sino tocou.
Ao ouvi-lo, a fada, achando que o príncipe tinha voltado, saiu do mirto. As mulheres, ao verem-na, pularam para cima dela dizendo: – Você é aquela que acaba com as nossas esperanças? Você é aquela que conquistou a graça do príncipe? É você que esta agora em posse daquilo que nos pertence? Oh, que você não tivesse tido essa sorte! Agora encontrará a sua ruína!
Assim dizendo, elas bateram em sua cabeça com um bastão e cortaram-na em centenas de pedaços. Cada uma das mulheres recolheu uma parte, apenas a mais nova não quis participar dessa crueldade, mas, ameaçada pelas irmãs de que devia fazer o mesmo que elas, ela recolheu uma mecha dos belos cabelos da fada. Depois disso, saíram do castelo sem que ninguém as visse.
O camareiro foi ao quarto arrumar a cama como o príncipe tinha pedido e, ao ver o desastre que havia acontecido lá, quase morreu de susto e de medo. Ele recolheu os restos de carne e ossos que ainda estavam por lá e, após raspar o sangue do chão, colocou tudo dentro do vaso do mirto. Então ele limpou o quarto, arrumou a cama e, ao sair, deixou a chave embaixo da porta.
Assim que o príncipe voltou da caça, tocou o sino, mas nada aconteceu. Tocou-o novamente, sacudiu-o, para que a fada o ouvisse. Então ele correu ao seu quarto e, ao ver o vaso destruído, começou a gritar: – Ai de mim! Oh trágico destino que me aguardava! Quem me fez este mal? Arruinado e destruído príncipe! Oh meu mirto, despedaçado! Oh minha fada, perdida! Oh minha vida, desgraçada! Que farei agora, infeliz como estou? Perdi tudo o que eu mais amava! Por que não me jogar desta janela? Oh caça maldita, que me levou toda a alegria! Acabou, estou perdido! Estou morto!
Essas palavras, que comoveriam até uma pedra, continuaram. Depois de um longo lamento e muito choro, com muita raiva e sem conseguir fechar os olhos para dormir, nem abrir a boca para comer, ele deixou tanto espaço para a sua dor que foi ficando cada vez mais pálido e doente.
A fada, que tornou a brotar dos restos que ficaram no vaso, vendo a dor de seu amado e seu rosto pálido, se encheu de compaixão e saiu do vaso, como uma luz surgindo na escuridão, surpreendendo o príncipe.
Ela o abraçou e disse: – Acalme-se, meu príncipe! Não chore! Aplaque essa raiva. Aqui estou eu, viva e bela, a despeito daquelas mulheres más que, batendo-me na cabeça, acabaram com minha carne.
O príncipe, vendo que ela estava viva, sentiu a vida voltar-lhe ao coração. Após muitos abraços e carinhos, ela lhe contou tudo o que havia acontecido. O príncipe percebeu que o camareiro não tinha culpa, então chamou-o e ordenou que ele fizesse um grande banquete. Com o consentimento do pai, o príncipe casou-se com a fada. Para o banquete, convidou todos do reino, e fez questão que aquelas sete mulheres estivessem presentes.
Após o banquete, o príncipe perguntou a todos: – O que mereceria alguém que fizesse mal àquela encantadora jovem? – apontando a fada, que era tão bela e tocava o coração de todos. Um dizia que essa pessoa mereceria a forca, outro, que deveria ser torturado, outro, que deveria ser jogado de um precipício, e várias outras penas também foram citadas. Por último, chegou a vez das mulheres responderem, por mais que não gostassem dessa conversa, e elas disseram: – Quem tivesse coragem de fazer mal a esse amor mereceria ser enterrado vivo no fundo de um esgoto.
– Pois então, vocês causaram o mal e vocês mesmas deram a sentença! Basta apenas eu dar a ordem para que ela seja cumprida! Pois vocês são aquelas que fizeram mal a esta bela criatura e destruíram a carne destes belos membros – respondeu o príncipe. – Agora, não percamos mais tempo, que vocês sejam jogadas no fundo de um esgoto, onde terminem miseravelmente a vida!
A sentença foi logo cumprida com as seis mulheres que haviam feito aquela crueldade, e o príncipe casou a irmã mais nova delas com o camareiro. Depois, os pais do mirto se mudaram para o palácio, onde viveram muito bem, e todos ficaram muito felizes.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Pentamerone

Todos nós conhecemos várias versões diferentes das mesmas histórias. Quando se trata de contos de fadas, parece que há mais versões ainda. Os contos de fadas são histórias populares que circulam pelo mundo há centenas de anos, e é claro que, com o passar do tempo e as mudanças no mundo e na sociedade, essas histórias sofrem mudanças.
Em sua origem, os contos de fadas não eram apenas essas histórias bonitinhas com finais sempre felizes. Havia mortes, sangue, maldades e muitas outras coisas que nunca seriam admitidas em um desenho da Disney. Isso porque a sociedade era diferente, a ideia do que era ser criança era outra e essas histórias não eram tidas como coisas de crianças, mas histórias para todos (você encontra mais sobre esse tema nesse post aqui)
Quando se pensa na origem dos contos de fadas, muita gente lembra logo dos irmãos Grimm, ou de Andersen, que recolheram várias histórias e as publicaram no século XVIII ou XIX. Mas existem versões publicadas bem antes desses escritores nascerem.
Em 1634, foi publicado na Itália um livro chamado Pentamerone (ou o conto dos contos). Esse livro foi escrito por Giambattista Basile, mas ele também apenas reuniu contos já existentes na cultura popular. Esse livro reúne 50 contos de fadas; entre eles, podemos encontrar algumas histórias que são famosas hoje em dia (como Cinderela, mas de uma forma totalmente diferente das atuais) e outras que muita gente nunca ouviu falar.


Em breve, estarão aqui alguns desses contos. Eles não são muito indicados para as criancinhas de hoje em dia, mas são histórias muito diferentes e interessantes, e vale a pena conhecê-los.

Quem se interessar em ver os livros originais, pode encontrá-los nesse site: http://archive.org/search.php?query=pentamerone%20AND%20collection%3Atoronto